Pernas a tremer, boca seca, face ruborizada e coração a palpitar mais do que o comum. Se já teve que falar em público, sabe que estes sintomas são comuns. Conheça algumas dicas que vão ajudá-lo a ultrapassar esse medo.
Falar em público é um dos seus maiores medos? Não está sozinho. Um estudo publicado no ScienceDirect indica que a ansiedade de falar em público afeta aproximadamente uma em cada cinco pessoas e é um dos tipos de ansiedade mais comuns. A boa notícia é que existem técnicas de comunicação que podem ajudá-lo a contornar a dificuldade em falar em público.
Seja em ambiente profissional, com dezenas de pessoas à sua frente, na sua vida pessoal - em casamentos ou discursos em família - ou simplesmente quando se dirige à gerência de um restaurante para reclamar do serviço, é importante saber comunicar a mensagem que quer passar. “Isso dá-nos credibilidade e ajuda-nos a conseguir o que pretendemos'', explica Ana Andrade, professora na Universidade Católica e autora do livro "Falar em Público".
“Dominar a arte da retórica é sinónimo de poder”, afirma a especialista. Não é preciso ter ambições políticas ou desejar apresentar o Telejornal para sentir a necessidade de dominar esta competência. Afinal, todos queremos ser melhor compreendidos. "Gostamos que as nossas mensagens sejam claramente percecionadas e que as nossas propostas sejam acolhidas", prossegue a professora.
Em muitas situações, a responsabilidade e a visibilidade de falar em público fazem com possa sentir-se intimidado, nervoso e ansioso. Muitos sentem as pernas e as mãos a tremer, a boca seca ou a salivar, a face ruborizada. O coração bate mais depressa e o raciocínio parece entorpecido.
Apesar de não existirem fórmulas universais e infalíveis que nos tornem bons oradores, o medo não pode ser um obstáculo, refere a professora, explicando que este nos torna “responsáveis e atentos aos pormenores''. Faz-nos querer melhorar.
“Falar em público é, sem margem para dúvidas, uma arte que se aprende”, reitera a académica. E uma das formas mais eficazes de enfrentar o medo e a ansiedade é investir na prática. Conheça as dicas da especialista Ana Andrade e descubra como superar o medo e o nervosismo de falar em público, potenciando as suas capacidades.
Para que se possa sentir seguro durante a apresentação, comece por definir a mensagem. É fundamental dominar o conteúdo sobre o qual irá falar e estruturá-lo bem. De seguida, pense na estratégia mais adequada de transmissão, recomenda Ana Andrade. “Faz sentido recorrer ao storytelling? Ao humor? Será pertinente complementar o seu discurso com elementos visuais, como imagens ou uma apresentação em Powerpoint? É adequado usar citações de autores na matéria?” Depois, detenha-se também no tom do discurso: deve ser mais formal ou ter alguns elementos de informalidade? Outro pormenor: não descure a imagem e procure escolher um vestuário adequado ao contexto.
“É importante que não dependamos de um papel ou de um dispositivo eletrónico para transmitir o que queremos dizer”, frisa a professora universitária. “Podemos ter notas, mas devemos evitar a leitura pura e simples de um texto, porque perdemos o entusiasmo, a entoação e a espontaneidade”, considera Ana Andrade.
Foque-se no tema da apresentação e não faça considerações sobre assuntos polémicos paralelos. “Para quê correr o risco de criar anticorpos na audiência?”, diz a docente. Mais: não recorra a piadas que possam ser consideradas desinteressantes ou desadequadas. “O humor é uma arma tremenda, mas apenas se for bem usado, com requinte, com ironia.”
Um dos erros mais frequentes é contar sempre as mesmas histórias, usar as mesmas piadas ou exemplos, diz Ana Andrade. “Estou firmemente convicta de que cada auditório tem o direito de se sentir especial, de estar certo de que aquele discurso é-lhe diretamente dirigido e foi elaborado a pensar nele”, acrescenta a especialista. Procure adaptar-se “sempre, constantemente, a toda a hora” ao público-alvo – muitas vezes será preciso fazê-lo a meio do processo. Além da adequação do discurso, crie uma ligação com quem tem diante de si, estabelecendo contacto visual.
É fundamental transmitir a mensagem com clareza, procurando garantir que o destinatário percebe bem a terminologia e as ideias do orador. “De outro modo, como é que a mensagem passa?”, questiona Ana Andrade, sublinhando a importância de se utilizar “uma linguagem que o interlocutor entenda”. Evite repetir ideias “vezes sem conta”, usar demasiados adjetivos ou advérbios – isso fará com que a audiência se desinteresse.
Pronuncie corretamente as palavras, não fale demasiado depressa e procure um tom de voz adequado – não se acanhe projetando pouca a voz ou sendo monocórdico. Outra recomendação: não recorra a bengalas linguísticas, como intercalar frases com demasiados “aaaa”. Interferem na eficácia da comunicação.
O modo como nos apresentamos e nos movemos, a maneira como os braços e as mãos acompanham e enfatizam o que dizemos e a forma como projetamos a voz dizem tanto sobre nós como o conteúdo que pretendemos transmitir.
Existe ainda um ponto muito relevante: a genuinidade. “Ao público temos de parecer absolutamente naturais, em todas as dimensões”, explicando que devemos “apresentar-nos com uma postura quase altiva, mas descontraída: o pescoço bem longe das orelhas, a cabeça alinhada com a coluna, como se estivéssemos a ser puxados por um fio invisível, na vertical – mas sem nunca perder a autenticidade.” Uma postura que se deve, na maioria das vezes, “a muito treino e correção”, contrariando gestos mais bruscos ou trabalhando tendências para nos mantermos rígidos e estáticos.
Este é o grande segredo para saber como perder o nervosismo de falar em público. Simule várias vezes a apresentação que irá fazer. Utilize a câmara do smartphone para filmar o treino e identifique os aspetos em que pode melhorar. “Para os mais inseguros, também ajuda antecipar duas dúzias de perguntas que poderão ser colocadas pela audiência, caso a circunstância permita uma conversa, e ter resposta pronta”.
Se se sente apreensivo ou de algum modo nervoso, procure minimizar a carga assustadora do momento, pensando que só vai fazer aquilo que faz todos os dias: passar uma mensagem a outrem. Mais: “devemos pensar que as pessoas que estão perante nós, cujo julgamento tanto tememos, já estiveram ou estarão exatamente na mesma posição em que estamos agora”.
Respire pausadamente e de forma profunda. “Estas técnicas são ótimas para educar o coração a bater descompassadamente e a bombear adrenalina na corrente sanguínea, o que muitas vezes nos impede de projetar bem a voz e até de pensar (o vácuo mental e a famosa “branca” não são um mito urbano)”, declara a especialista em retórica e argumentação.
Os conteúdos apresentados não dispensam a consulta das entidades públicas ou privadas especialistas em cada matéria.
O que achou deste artigo?
Queremos continuar a trazer-lhe conteúdos úteis. Diga-nos o que mais gostou.
Agradecemos a sua opinião!
A sua opinião importa. Ajude-nos a melhorar este artigo do Salto.
Agradecemos o seu contributo!