Saiba mais sobre esta doença crónica que afeta, sobretudo, mulheres em idade reprodutiva.
No centro de muitas discussões sobre a saúde feminina está uma condição que afeta milhões de mulheres em todo o mundo, mas que ainda não é totalmente compreendida: a endometriose. Apesar de ser uma doença comum, continua a ser subdiagnosticada e, muitas vezes, mal interpretada, levando a anos de sofrimento para muitas mulheres.
Se alguma vez sentiu dores menstruais incapacitantes ou conhece alguém que sofre com este problema, este artigo é para si.
Estima-se que, em Portugal, cerca de 228 mil mulheres tenham endometriose diagnosticada, enquanto, a nível global, a condição afeta aproximadamente 176 milhões de mulheres, das quais cerca de 10% estão em idade reprodutiva.
Mas, afinal, do que se trata? A endometriose é uma condição ginecológica crónica na qual o tecido endometrial, semelhante ao endométrio – a camada interna do útero que é normalmente expelida durante a menstruação – cresce fora deste. Este tecido pode implantar-se em diferentes áreas do corpo como os ovários, as trompas de Falópio, o peritoneu (a membrana que reveste a cavidade abdominal) e, em casos mais graves, pode até mesmo alcançar outras zonas como os intestinos ou a bexiga.
Esta presença anormal do tecido endometrial fora do útero leva a inflamação, dor e formação de cicatrizes, o que resulta numa série de sintomas que podem afetar gravemente a qualidade de vida da mulher.
As causas exatas da endometriose ainda não estão completamente esclarecidas, no entanto, algumas teorias têm sido avançadas:
Os sintomas da endometriose variam amplamente entre as mulheres, mas os mais comuns incluem:
Apesar da dor ser um dos sintomas mais característicos da endometriose, nem todas as mulheres que sofrem desta condição a experienciam da mesma forma. A dor pode variar significativamente em intensidade e localização e, em alguns casos, pode até estar ausente. Algumas mulheres com endometriose profunda ou extensa podem ter poucos ou nenhuns sintomas de dor, o que torna o diagnóstico ainda mais desafiador.
Por outro lado, algumas mulheres com pequenas lesões endometriais podem sofrer de dores intensas. Esta disparidade sugere que a dor não está apenas relacionada com a quantidade de tecido endometrial fora do útero, mas também com outros fatores como a inflamação local, a formação de cicatrizes entre órgãos e a reação do sistema nervoso.
A ausência de dor, no entanto, não significa que a endometriose seja inofensiva. Mesmo sem dor, a condição pode causar danos significativos como problemas de fertilidade ou lesões nos órgãos pélvicos. Por isso, é fundamental estar atento a outros sintomas e procurar ajuda médica se suspeitar de endometriose, mesmo que a dor não esteja presente.
Dependendo da localização e extensão do tecido endometrial, esta condição pode ser classificada em diferentes tipos:
1. Endometriose superficial: o tecido endometrial cresce na superfície dos órgãos pélvicos
2. Endometriomas: lesões hemorrágicas ou quistos ováricos preenchidos por sangue
3. Endometriose profunda: condição que afeta áreas mais profundas do tecido como as paredes do intestino ou bexiga
4. Endometriose peritoneal: a forma mais comum, onde o tecido endometrial cresce na membrana que reveste a cavidade abdominal.
Uma vez que os sintomas se sobrepõem a outras condições ginecológicas, diagnosticar esta doença pode ser um desafio. Mas, antes de mais, o processo começa por ouvir atentamente a mulher e valorizar os seus sintomas, especialmente quando são cíclicos e coincidem com o ciclo menstrual.
A história clínica da paciente é, portanto, um dos primeiros passos importantes a verificar, já que a presença de sintomas específicos como dor pélvica intensa durante a menstruação, história familiar da doença, infertilidade, entre outros antecedentes pessoais que podem indicar esta condição.
Após esta avaliação inicial, o médico realiza uma observação ginecológica. Durante este exame, podem ser detetadas alterações específicas que reforçam a suspeita de endometriose.
Para confirmar o diagnóstico, o próximo passo envolve exames imagiológicos e poderá também ser necessária biópsia do tecido endometrial. A ecografia ginecológica é, geralmente, a primeira escolha. Este exame é acessível e, quando realizado por médicos experientes na avaliação de endometriose, pode identificar lesões características da doença. Em casos mais complexos, a ressonância magnética pode ser utilizada para mapear detalhadamente a endometriose ao mostrar a localização e a extensão das lesões.
Noutras situações poderá ser necessário recorrer a procedimentos mais invasivos como a laparoscopia, técnica que envolve pequenas perfurações no abdómen permitindo visualizar diretamente o interior da cavidade pélvica com uma câmara. Este exame pode diagnosticar a endometriose em até 70% dos casos.
Em algumas pacientes, o momento ideal para a observação ginecológica ou para realizar a laparoscopia é cerca de três a quatro dias antes do início da menstruação, quando as lesões endometriais estão mais evidentes e prestes a descamar, facilitando a identificação.
O tratamento depende da gravidade dos sintomas, da idade da paciente e do desejo de engravidar. As opções incluem:
1. Medicação para a dor: analgésicos como os anti-inflamatórios não esteróides (AINEs) são frequentemente recomendados para aliviar a dor
2. Terapêutica hormonal: a utilização de hormonas pode ajudar a controlar a menstruação ao diminuir o crescimento do tecido endometrial. Inclui pílulas anticoncecionais, dispositivos intrauterinos (DIUs) hormonais, agonistas do GnRH, entre outros
3. Cirurgia: em casos moderados a graves, ou quando a medicação não é eficaz, a cirurgia pode ser necessária para remover o tecido endometrial. A laparoscopia é frequentemente utilizada, mas, em casos específicos, pode ser necessária uma histerectomia (remoção do útero)
4. Tratamentos de fertilidade: para mulheres que desejam engravidar, tratamentos de fertilidade como a fertilização in vitro (FIV), podem ser recomendados
5. Suporte psicológico: a endometriose pode ter um impacto significativo na qualidade de vida e saúde mental da mulher. Neste caso, a psicoterapia ou grupos de apoio podem ser benéficos.
Os conteúdos apresentados não dispensam a consulta das entidades públicas ou privadas especialistas em cada matéria.
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