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Há números que falam por si, e a energia solar é um deles. Os painéis solares já não são aquela tecnologia distante que víamos apenas em telhados “especiais”. Estão em casas, escolas, empresas, teatros e até em navios, discretamente integrados no nosso dia a dia.
À medida que se tornam mais comuns, a tendência torna-se evidente: sempre que entram em cena, a dependência da rede elétrica começa a descer de forma consistente. E, em muitos casos, de forma surpreendente.
Vale a pena clarificar o que se está a medir. Quando se fala em “redução do consumo energético com painéis solares” está, na prática, a falar-se de duas coisas diferentes:
Por um lado, a redução da energia que o edifício precisa de comprar à rede elétrica, porque passa a consumir diretamente a energia produzida no telhado. É aqui que entra o autoconsumo: primeiro usa-se o que os painéis estão a produzir naquele momento, só depois se vai “buscar” eletricidade ao comercializador.
Por outro lado, em alguns projetos mais completos, fala-se de redução de “energia primária”, que inclui todo o sistema energético que está por trás da tomada, não apenas a fatura que chega ao fim do mês. É o caso de muitos edifícios públicos e de programas apoiados pelo PRR, que apontam para reduções médias de, pelo menos, 30% do consumo de energia primária quando se combinam painéis solares com outras medidas de eficiência.
Ou seja, os painéis solares não fazem magia sozinhos, mas mudam a ordem do jogo: em vez de depender quase totalmente da rede, o edifício começa a produzir parte da energia de que precisa, todos os dias, enquanto o sol está a brilhar.
A forma mais simples de perceber números é olhar para casos concretos. E, atualmente, já temos muitos.
No teatro Rivoli, no Porto, a instalação de uma unidade de produção para autoconsumo com 139 painéis fotovoltaicos permitiu reduzir cerca de 30% do consumo elétrico do edifício. Trata-se de uma casa de espetáculos, com muitos equipamentos, iluminação e climatização intensiva. Mesmo assim, quase um terço da eletricidade deixou de ser comprada à rede, todos os anos.
Na Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Porto, o cenário vai mais longe, porque não se mexeu apenas no telhado. Além de mais de duas centenas de painéis solares (térmicos e fotovoltaicos), foram substituídas caldeiras antigas, melhorados sistemas de climatização e instalado um sistema de gestão técnica centralizada que funciona como “cérebro energético” do edifício. Resultado: mais de 40% de redução no consumo total de energia primária e subida para classe energética A+.
Noutro extremo, bem diferente, um navio de carga holandês instalou 44 painéis solares no convés cuja produção serviu para alimentar parte dos sistemas elétricos de bordo e reduzir o consumo de energia em cerca de 20%. Em ambiente marítimo, com enormes exigências operacionais, isto é muito significativo.
E na agricultura, uma estufa na Austrália equipada com vidro fotovoltaico transparente (que deixa a luz passar e, ao mesmo tempo, produz eletricidade) conseguiu reduzir o consumo de energia em 57% e ainda baixar o consumo de água em 29%, sem praticamente mexer no rendimento das culturas. É um exemplo extremo, mas mostra o potencial quando o projeto é pensado de raiz.
O que é que estes casos têm em comum? Em contextos muito diferentes, os painéis solares estão a cortar:
A experiência de quem tem pequenos sistemas residenciais de autoconsumo em Portugal mostra que, com quatro ou cinco painéis instalados numa moradia ou apartamento com boa exposição solar, a poupança real na fatura da luz tende a ficar, sem baterias, algures entre 10 e 30 euros por mês, dependendo muito dos hábitos de consumo.
Isto traduz-se, em muitos casos, numa redução de 20% a 40% da energia comprada à rede. Quando o consumo diurno é elevado — porque está alguém em teletrabalho, há equipamentos ligados durante o dia ou se conseguem passar lavagens para as horas de sol — essa percentagem pode até aproximar-se dos 50%. E pequenos ajustes como usar máquinas nas horas de maior produção fazem realmente diferença para quem quer poupar na eletricidade.
Quando entram baterias na equação, o cenário muda novamente. Em 2025 já há projetos domésticos em que a combinação de painéis fotovoltaicos com armazenamento consegue cortar até cerca de 70% da fatura de eletricidade, porque a energia excedente do dia é guardada para ser usada à noite.
Na prática, para uma família típica em Portugal, pode fazer sentido pensar assim:
Tudo depende de três coisas muito concretas: quanto se consome, em que horas se consome e se a instalação foi dimensionada para o perfil daquela casa, em vez de ser um “tamanho standard” que não se ajusta ao dia a dia de quem lá vive.
O contexto atual da energia e da fiscalidade trouxe duas mudanças importantes para quem pondera instalar painéis solares. A eletricidade fica ligeiramente mais barata nos primeiros escalões, graças ao IVA de 6%, o que reduz um pouco o impacto de cada kWh poupado pelos painéis. Ao mesmo tempo, a partir de julho, a compra e instalação de painéis solares passou a pagar 23% de IVA, tornando o investimento inicial mais elevado.
O resultado é um equilíbrio curioso: por um lado, poupa-se um pouco menos por cada kWh produzido; por outro, o investimento inicial é hoje mais elevado. Ainda assim, muitos projetos continuam a apontar para tempos de retorno entre cinco e 10 anos, desde que o sistema esteja bem dimensionado e exista um bom nível de autoconsumo. Não é uma poupança instantânea, mas continua a ser uma forma sólida de reduzir a dependência da rede e estabilizar custos no longo prazo.
Produzir energia é só metade da equação. Se a casa perde calor ou arrefecimento pelas janelas, a climatização trabalha mais e o consumo dispara. Janelas antigas, sem corte térmico, são muitas vezes o maior ponto de fuga. Já soluções modernas em PVC, com vidros mais eficientes, conseguem reduzir bastante as necessidades de aquecimento e ar condicionado, algo que se nota especialmente numa casa sustentável, onde o conforto e o desempenho energético andam de mãos dadas.
E isso tem tudo a ver com painéis solares. Quanto menos energia a casa precisar para manter o conforto, maior será a percentagem de consumo coberta pela produção solar. A mesma instalação pode render muito mais numa casa bem isolada do que numa que “deixa escapar” energia a toda a hora.
No fundo, a pergunta já não é se a energia solar funciona, mas sim como pode encaixar na rotina e no orçamento de quem a considera. Cada casa, cada telhado e cada horário de consumo contam uma história diferente, mas 2025 mostra-nos algo muito claro: produzir a própria energia deixou de ser um luxo ou uma “tendência verde” e passou a ser uma escolha prática, que dá mais controlo e previsibilidade ao dia a dia.
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