Finanças

Por que continuamos a jogar pelo seguro quando o assunto é investir?

5 minutos de leitura
Publicado a 27 Novembro 2025
Mulher à secretária do escritório contempla gráficos e outros dados no computador

Falar de dinheiro continua a ser um tema sensível em muitas casas. E quando o assunto é investir, a tendência é, ainda, jogar pelo seguro. Em 2025, o retrato mantém-se: a maioria dos portugueses continua a preferir proteger o capital, mesmo que isso signifique abdicar de potenciais ganhos no longo prazo.

 

Para perceber melhor esta realidade, vale a pena olhar para a fotografia mais recente captada por inquéritos nacionais e estatísticas oficiais do Boston Consulting Group (Consumer Sentiment Survey 2025), da Universidade Católica Portuguesa (Barómetro dos Hábitos de Investimento 2025) e do Banco de Portugal.

 

 

O retrato português em números

Os números ajudam a perceber melhor esta relação entre poupança e investimento:

  • 61% não investe as suas poupanças
  • Entre quem investe, 49% assume perfil conservador e 41% moderado; só 6–9% se considera agressivo
  • Falta de poupança (37%), preferência por poupar sem investir (27%) e falta de conhecimento (10%) são as principais barreiras
  • Quando há poupança, 60% guarda para imprevistos e 40% pensa na reforma
  • Nos produtos mais usados, ganham os tradicionais: depósitos a prazo, PPR e certificados de aforro/Tesouro
  • Ainda assim, cerca de 20% já investe em ativos com risco (ações/obrigações/fundos) — ligeiramente acima do ano passado.

 

 

Porque é que Portugal continua tão cauteloso com os investimentos?

O comportamento financeiro dos portugueses não nasceu por acaso. Há um conjunto de fatores económicos, culturais e emocionais que ajudam a explicar por que razão o risco continua a ser visto mais como ameaça do que como oportunidade.

 

Pressão no orçamento

A verdade é que poupar continua a ser um luxo para muitas famílias. O aumento dos custos com alimentação, habitação, saúde e transportes tem deixado o orçamento familiar cada vez mais apertado. Segundo o Consumer Sentiment Survey 2025 da BCG, 64% dos portugueses poupam menos de 10% do salário e 36% nem sequer conseguem pôr de lado 5%.

 

Quando quase todo o rendimento é absorvido por despesas fixas, sobra pouco espaço para pensar em investimento. E, sem uma “almofada” de segurança, o dinheiro que existe tende a ser guardado em contas à ordem ou depósitos a prazo.

 

História e experiências passadas

Portugal tem um longo histórico de crises económicas, desde a recessão do início dos anos 2000 à crise financeira de 2008 e à pandemia de 2020. Estes episódios deixaram marcas profundas.

 

Não é por acaso que 44% dos investidores admitem já ter perdido dinheiro, segundo o Barómetro da Universidade Católica. Esse trauma coletivo traduz-se num receio de voltar a arriscar. A prioridade deixa de ser “fazer crescer o dinheiro” e passa a ser “não o perder”. É uma postura compreensível, mas que, a longo prazo, pode comprometer a rentabilidade e o crescimento do património.

 

Literacia e confiança

Mesmo com mais informação disponível do que nunca, a literacia financeira continua baixa. Muitos portugueses classificam o seu conhecimento sobre finanças pessoais num nível intermédio, mas um em cada quatro ainda não sabe o que é diversificação. Além disso, a confiança continua a ser um obstáculo. Há receio de “fazer asneira”, de não entender os produtos, de ser enganado ou de investir no momento errado. Por isso, a maioria procura os bancos tradicionais como fonte principal de informação e evita soluções mais autónomas ou digitais.

 

 

Onde está o dinheiro dos Portugueses?

A maior parte do dinheiro das famílias continua guardada em depósitos bancários e certificados de aforro ou do Tesouro, produtos de baixo risco e com capital garantido. São opções vistas como “abrigo” em tempos incertos, e o facto de oferecerem liquidez imediata ajuda a reforçar essa confiança.

 

Logo a seguir surgem os Planos Poupança Reforma (PPR) e os seguros de capitalização, escolhidos por quem quer pensar a longo prazo, beneficiando ainda de alguma vantagem fiscal. Já os fundos de investimento começam, pouco a pouco, a conquistar espaço. Ainda estão longe de ser uma escolha de massas, mas têm registado crescimento, sobretudo entre quem procura diversificar sem assumir riscos excessivos.

 

E há um dado curioso: mesmo num país prudente como Portugal, o ouro e a prata continuam a ter um lugar especial. Muitos investidores veem nestes metais um “porto seguro” para proteger o património em momentos de instabilidade económica.

Mas já se notam sinais de viragem

Apesar de o perfil conservador continuar a dominar, há indícios de que algo está a mudar no comportamento financeiro dos portugueses. É uma transformação lenta, quase silenciosa, mas que mostra uma maior abertura à diversificação e a novas formas de investir. Sobretudo entre as gerações mais jovens e os que têm mais formação.

  • Mais mulheres estão a investir em ativos com risco, reduzindo a distância para os homens (embora o gap ainda exista)
  • Mais diplomados estão a entrar em ações e obrigações, revelando maior familiaridade com produtos financeiros
  • Séniores mostram-se ligeiramente mais abertos a diversificar, ainda que mantenham o foco na preservação do capital
  • Canais digitais, como aplicações e plataformas de investimento, começam a ganhar espaço, mesmo que a banca tradicional continue a ser a principal fonte de informação e o ponto de contacto preferido.

 

 

7 passos para investir com confiança

  1. Comece por construir primeiro o fundo de emergência. Antes de pensar em investir, é importante garantir estabilidade. O ideal é ter o equivalente a três a seis meses de despesas essenciais guardado em depósitos a prazo ou numa conta à ordem remunerada. Essa reserva dá tranquilidade e evita ter de resgatar investimentos em momentos desfavoráveis
  2. Defina objetivos claros. Saber para quê (reforma, casa, estudos) e para quando (curto, médio ou longo prazo) ajuda a escolher os produtos certos. Objetivos com prazos mais longos permitem aceitar alguma volatilidade
  3. Diversificar a sério. Não colocar “todos os ovos no mesmo cesto” continua a ser uma das regras mais simples e eficazes. Combine rendimento fixo (depósitos, obrigações, PPR) com rendimento variável (fundos ou ETFs de ações globais). O segredo está no equilíbrio, não em apostar tudo num único produto
  4. Entre de forma faseada. Investir aos poucos, através de contribuições mensais automáticas (método DCA – Dollar Cost Averaging), reduz o risco de comprar no “pior momento” e tira a pressão das decisões de curto prazo
  5. Olhe para os custos e impostos. As comissões podem parecer pequenas, mas fazem diferença a longo prazo. E aproveitar o enquadramento fiscal favorável dos PPR ou outros produtos pode melhorar o retorno líquido
  6. Ter um perfil de risco alinhado com a vida real. Idade, estabilidade profissional, carga financeira e até a tolerância emocional ao risco contam mais do que se pensa. O investimento ideal é aquele que permite dormir descansado
  7. Aprender continuamente. Ler, comparar, perguntar. Acompanhar fontes fiáveis e, se necessário, procurar aconselhamento profissional. Quanto mais conhecimento, menos medo e melhores decisões.

 

 

O investidor português continua conservador. E não há mal nenhum em valorizar a segurança, sobretudo quando o orçamento é curto e a memória de perdas é recente. Mas ganhar resiliência para o futuro exige dar um passo além dos depósitos, com diversificação, disciplina e horizonte longo. Não se trata de “arriscar por arriscar”, mas de equilibrar proteção com crescimento.

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