Prevenir o incumprimento de crédito ganha ainda mais importância numa conjuntura marcada pela crise e pela incerteza. Numa altura em que muitas empresas procuram manter-se em atividade, o risco é naturalmente maior. Por isso, é fundamental saber o que fazer para que tal não aconteça.
Prevenir o incumprimento de crédito: situação financeira das empresas pré e durante a pandemia
Em 2020, de acordo com dados disponíveis na Pordata, a percentagem de empresas em incumprimento perante os bancos era de 16%. Analisando os números da mesma entidade, será preciso recuar até 2008 para encontrar uma percentagem tão baixa. Nesse ano, o valor era de 15,7%.
O valor mais alto da década seria atingido em plena crise, em 2014 (29,5%). Desde então, a tendência foi de descida.
Os números de 2020 podem parecer positivos se não tivermos em consideração o efeito das moratórias. A verdade é que esta medida de apoio no âmbito da crise pandémica veio minimizar ou adiar estas dificuldades.
No entanto, é inegável que a pandemia coloca uma enorme pressão sobre as finanças das empresas. Mais uma razão para que seja imperativo fazer o que está ao seu alcance para evitar o incumprimento de crédito.
Incumprimento em 2020 menor do que em 2019
As estatísticas do Banco de Portugal (BdP) revelam que, em novembro de 2020, 3,8% do total do stock de empréstimos concedidos às empresas estava em incumprimento. Curiosamente, é um valor igual ao registado em outubro de 2020, mas inferior ao que foi verificado em novembro de 2019 (5,2%).
Isto significa que, em média, por cada 100 euros emprestados às empresas, cerca de 3,80 euros não estavam a ser reembolsados de acordo com o contratualizado com o banco.
Os dados do BdP revelam também que, em novembro de 2020, as empresas do setor do alojamento e restauração tiveram um rácio de incumprimento de 1,8%. Este é um valor igual ao que tinha sido registado no mês anterior, mas inferior a novembro de 2019 (3,8%).
As empresas portuguesas pareciam estar, na mesma altura, a cumprir os seus compromissos com o Estado, aproveitando a possibilidade de adiar os pagamentos de impostos ou de os fazer em prestações.
O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, disse, em novembro, na Conferência Anual da Ordem dos Economistas sobre o Orçamento do Estado, que a taxa de incumprimento das empresas que aderiram aos planos prestacionais para pagar os impostos era de apenas 3%, o que equivalia a cerca de 40 milhões de euros.
A importância de prevenir o incumprimento
Tirando ou não partido das moratórias e de outras medidas criadas pelo Estado para
manter a liquidez, qualquer empresa deverá ter especial atenção à sua tesouraria.
O contexto é de incerteza e a retoma pode demorar ainda um pouco a chegar. Numa conjuntura tão delicada, os desafios para manter a sustentabilidade das empresas são enormes.
No entanto, evitar o incumprimento de crédito deve ser uma prioridade. As consequências para as empresas são graves: dívidas, processos, execuções fiscais, penhoras, insolvências, despedimentos. Estas são palavras que ninguém quer ver associadas à sua empresa.
Por isso, é importante tomar, quanto antes, medidas para que isso não venha a acontecer.
Conselhos para prevenir o incumprimento
Tal como monitoriza a sua saúde, estando atento a qualquer alteração que surja, é importante estar atento aos sintomas que a sua empresa apresenta e que podem indicar o aparecimento de problemas.
Se começa a ter dificuldades para pagar a funcionários ou fornecedores, se a liquidez é cada vez menor e o valor das receitas está muito próximo do das despesas, estes são sinais de alerta.
Será esta uma situação muito pontual (devido a uma flutuação sazonal da procura, por exemplo) ou antevê que se mantenha ou agrave nos próximos meses? Caso preveja que as dificuldades não desapareçam, é importante tomar, quanto antes, medidas adequadas.
Entre as medidas a tomar para prevenir o incumprimento de crédito pode estar a reformulação do plano de negócios ou o adiamento de investimentos que não sejam prioritários.
Há ainda que analisar detalhadamente todas as despesas e reduzir ou cortar totalmente algumas. As mais supérfluas, como despesas de representação ou outros benefícios não obrigatórios, podem encabeçar a lista de cortes a fazer.
Alterar a localização da empresa para instalações menos dispendiosas é outra solução, tal como subcontratar serviços que não tenham obrigatoriamente de ser feitos pela sua empresa.
Caso tenha setores que não sejam rentáveis ou funcionários subaproveitados, será importante reorganizar essas estruturas para que passem a criar valor para a empresa.
Renegociar é outra palavra importante no contexto da prevenção do incumprimento: prazos, preços e contratos devem ser discutidos e, se possível, alterados de uma forma mais favorável. Estas alterações poderão ser temporárias - por exemplo, no alargamento do prazo de pagamento a fornecedores.
A renegociação dos seus créditos é outra forma de evitar o incumprimento.
O seu Banco tem todo o interesse em ajudá-lo a evitar o incumprimento de crédito e será preferível fazer esta abordagem ainda antes de as dificuldades surgirem.
Este é, aliás, outro ponto bastante importante: quanto mais tempo esperar, mais difícil será gerir o incumprimento. Quando o valor das prestações vencidas sobe e os juros de mora se acumulam, a situação torna-se ainda mais complexa.
6 sinais de alerta
Muitas vezes, os sinais de um eventual incumprimento já existem, mas as tarefas diárias e o trabalho necessário para manter a empresa em funcionamento não permitem que sejam imediatamente detetados.
- Vendas muito concentradas em um ou dois clientes;
- Elevada rotação de clientes;
- Dívidas a fornecedores a crescer acima das vendas nos últimos anos;
- Crescimento de dívidas de clientes com mais de 90 dias;
- Forte aumento do endividamento bancário nos últimos anos;
- Elevado endividamento de curto prazo.
Reconhece estes sinais? Talvez seja altura de analisar as finanças da sua empresa e dar os primeiros passos no sentido de evitar o incumprimento de crédito.
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