família

Educação financeira para crianças: o que ensinar em cada idade

23 fev 2024 | 10 min de leitura

Gostava de ensinar os seus filhos a lidar com dinheiro? Saiba o que é a educação financeira para crianças e como explicar a importância de poupar e de gerir bem o dinheiro em cada faixa etária.

Educação financeira para crianças

Por estes dias, os irmãos João e Joana têm um objeto de desejo em comum: ambos querem muito ter um hoverboard. Os pais começaram por explicar-lhes que esta prancha é cara e que a sua compra não seria prioritária, ao contrário de necessidades como alimentação, roupa ou despesas escolares. Teriam que poupar dinheiro antes de o comprar. Mas o tema tornou-se quase diário.

 

Uma noite, o pai procurou exemplificar o valor que tinham de amealhar: “O que gastei hoje na conta do supermercado teria dado para comprar o hoverboard”. Joana, que tem cinco anos, não compreendeu e chorou porque se o pai gastou o dinheiro, já não teria o suficiente para comprar a desejada prancha. João, de sete anos, pensou uns momentos e disse: “Podem usar o dinheiro que tenho poupado para ajudar na compra”.

 

A reação de ambos está adequada às suas idades. Apesar da diferença de dois anos entre os irmãos, João já está na fase em que reconhece a importância do dinheiro. Joana ainda acha que as moedas prateadas e douradas de um e dois euros são mais valiosas do que os coloridos retângulos de papel de cinco, 10 ou 20 euros.

 

 

Qual a importância da educação financeira para a tomada de decisões

A literacia financeira é a capacidade de ler, analisar, gerir e compreender conceitos, que resultam na tomada de decisões informadas e adequadas na gestão do dinheiro.

 

Quanto mais cedo as crianças aprenderem e dominarem estes temas, maiores as probabilidades de se tornarem adultos que façam escolhas informadas sobre as suas finanças, nomeadamente sobre a importância de poupar dinheiro, comparar custos antes de uma grande compra ou planear a reforma. Este é o poder da educação financeira. É por isso, essencial iniciar a aprendizagem sobre estes conceitos desde a mais tenra idade.

 

 

O que ensinar às crianças nas várias idades?

Retomemos o exemplo dos irmãos João e Joana. O tema faz parte do seu dia-a-dia desde sempre. Observam e acompanham os pais nas compras. Ouvem conversas sobre a gestão do orçamento e participam nas escolhas que fazem. E, desta forma prática, aprendem algumas ferramentas que serão bastante úteis na sua vida adulta.

 

Se é pai ou educador, saiba o que deve ensinar aos seus filhos em cada fase.

 

 

Dos 3 aos 5

Nestas idades, as crianças começam a aprender a contar e já têm a noção que é necessário pagar um bem antes de o trazer da loja. Mas, por exemplo, ainda não compreendem que o valor das moedas não é definido pela sua dimensão ou cor ou que ter uma grande quantidade não significa ter mais dinheiro. Até dominarem estes conceitos, continuarão a preferir acumular moedas de 50 cêntimos, ou até de menor valor, a simples notas de papel.

 

Algumas brincadeiras, supervisionadas por um adulto, para introduzir alguns conceitos financeiros.

 

  • Deixe a criança brincar com dinheiro, para que comece a perceber as diferenças entre as moedas, fazendo diferentes pilhas por tamanhos, cores e números. No final, peça à criança para ajudá-lo a guardar as moedas na carteira. Assim, percebe que o dinheiro é importante e que deve ser guardado num local seguro.

 

  • Ofereça-lhe um sítio seguro para guardar o seu dinheiro. Para incentivar à poupança, pode começar a dar à criança umas moedas por semana (o valor deve ser ajustado e estabelecido por si). Pode ser um tradicional mealheiro fechado ou um frasco transparente, para que consigam ver o dinheiro aumentar. Façam da evolução da poupança um tema de conversa, contabilizando valores, mostrando a diferença entre as moedas e notas. E a partir dos 5 anos, se lhe pedirem um brinquedo específico, ajude-os a retirarem o dinheiro do mealheiro ou frasco e a pagarem com ele na loja.

 

  • Comece a explicar a diferença entre necessitar e querer, ajudando-as a perceber o que é necessário e o que é supérfluo.

 

 

Dos 6 aos 9 (1.º ciclo)

A entrada no 1.º ciclo coincide com a aquisição dos conceitos de troca e equivalência, ou seja, que o dinheiro tem diferentes valores e que nem sempre temos moedas e notas em quantidade suficiente para comprar algo.

 

É a altura ideal para abordarem o tema das escolhas financeiras. Algumas atividades que pode realizar:

 

  • Poupar, gastar e doar. Nesta altura, as crianças devem ter um valor fixo de semana para gerir. É importante que os incentive a dividir o dinheiro que recebem em três partes: uma parte para gastar no que quiserem, outra parte para poupar para um objetivo (pode ser comprar o seu jogo de computador preferido) e uma outra parte para doar para uma instituição ou causa à sua escolha.

 

  • Deixe as crianças participarem nas compras. Com um orçamento previamente definido e uma lista de compras feita em conjunto, aproveite as idas ao supermercado para falar sobre como um produto pode ter preços diferentes em função da marca ou que um pacote maior pode ser mais económico do que dois mais pequenos.

 

  • Incentive-as a fazer escolhas. Se a criança pedir um jogo de computador, por exemplo, explique que ao gastar esse valor não poderá comprar-lhes um par de sapatos ou outro objeto necessário. Nesta idade, as crianças têm capacidade para pensar nas suas decisões e perceber as consequências para o futuro das suas escolhas.

 

  • Explique o dinheiro ganha-se. É importante que as crianças saibam que o dinheiro não vem das Caixas Multibanco e que os pais têm de trabalhar para receber um ordenado todos os meses. Se possível leve as crianças a visitarem o seu local de trabalho.

 

  • Introduza alguns conceitos financeiros mais complexos, como as contas bancárias, os créditos ou os seguros, explicando a sua importância na gestão financeira de um adulto. Explique, por exemplo, que para comprar uma casa a maior parte das pessoas tem de recorrer ao crédito habitação e que, por isso, todos os meses têm de pagar uma parte desse dinheiro com juros.

 

 

Dos 10 aos 12 (2.º ciclo)

Nesta fase já pode atribuir o dinheiro de bolso, para as pequenas compras semanais, seja uma borracha para a escola, a caderneta de cromos ou um lanche.

 

  • Passe para a mesada. Por esta altura, já devem conseguir controlar melhor os seus ímpetos consumistas e pode passar a atribuir uma mesada, em vez de semanada, como forma de lhes dar mais responsabilidade sobre o dinheiro que recebem.

 

  • Ajude-os a fazerem um orçamento da mesada. Dê-lhes espaço para fazerem as suas escolhas, mas acompanhe este processo e ajude-os a identificar o que estão a fazer certo e errado, explicando porquê.

 

  • Aborde os Imprevistos. Incentive-os a pensarem em cenários inesperados que podem afetar a sua mesada e como se preparar. É altura de falar sobre o fundo de emergência e como fazê-lo.

 

  • Explique outros conceitos financeiros, como os produtos de poupança, o que são as taxas de juro e como a inflação pode afetar as suas poupanças. O sistema financeiro não deve ser um bicho-papão nestas idades. Mostre-lhes o extrato bancário e explique como dividem o dinheiro que recebem todos os meses e, se for preciso, leve-as ao banco para que percebam onde guardam o dinheiro de forma segura

 

 

Dos 13 aos 15 (3.º ciclo)

Recorda-se das primeiras conversas sobre necessidades e desejos quando eram mais pequenos? Esta é, talvez, a fase em que mais são influenciados pelos seus pares e podem ceder às compras por impulso.

 

  • Explique que não devem gastar mais do que ganham. É altura de voltar a explicar-lhes que se quiserem muito comprar aquela camisola de marca poderão depois não ter dinheiro o suficiente para os lanches na escola ou outras despesas essenciais. Se optarem pela compra do seu objeto de desejo, não reforce a sua mesada. É importante que aprendam a lição: não pode gastar mais do que ganha.

 

  • Incentive-os a poupar, pelo menos, 10% da mesada que recebem. É um hábito que começa a adquirir e que ficará para a vida.

 

  • Aborde a importância dos investimentos. Nesta fase, já devem saber identificar diferentes produtos financeiros, como depósitos a prazo, ações, obrigações, fundos de investimento, de pensões e seguros. A bolsa de valores ou as funções do Banco Central Europeu são agora temas a introduzir. Partilhe notícias sobre estes temas ou encoraje as perguntas e dúvidas. Siglas como TANB, a distinção entre juros simples e juros compostos e conceitos como indexante, spread e Euribor também devem ser apreendidas nesta idade.

 

 

Dos 16 aos 18 (Ensino Secundário)

Se o trajeto da literacia financeira decorreu sem problemas, nesta fase os jovens terão conhecimento já próximos dos de um adulto.

 

  • Incentive-os a ter um part-time ou trabalho nas férias, para que consigam ter dinheiro para despesas mais caras, como os ténis da moda, o último smartphone ou a consola que sempre desejaram.

 

  • Prepare-os para o futuro. Em breve terão uma decisão importante a tomar: prosseguem os estudos ou começam a trabalhar. Em qualquer dos cenários, é importante que os ajude a preparar–se para os desafios que estão à espreita, principalmente se forem estudar para fora.

 

  • Explique a importância do orçamento. Este tema já deve ter sido abordado, mas deve ser reforçado antes que ganhem asas e saiam de casa. Mostre-lhes o orçamento familiar da casa e explique-lhes como fazem para dividir as despesas. É sempre melhor aprender pelo exemplo.

 

  • Incentive-os a comparar produtos bancários, por forma a perceberem quais as melhores soluções para a universidade ou, se não for o caso, quais as contas e produtos com menores comissões e anuidades. Incentive-os também a começarem a investir pequenos montantes dos seus rendimentos,

 

 

Onde aprender sobre o valor do dinheiro?

No Museu do Dinheiro. Localizado no coração de Lisboa, na antiga Igreja de São Julião, é um museu interativo, onde as crianças (e adultos) podem aprender sobre a história do dinheiro, as suas diferentes utilizações e até desenvolver uma nota com o rosto das crianças. A visita é grátis.

 

No Museu do Papel Moeda da Fundação Cupertino de Miranda, na Avenida da Boavista, no Porto. A exposição narra a história do dinheiro de papel e contém uma das maiores coleções de papel-moeda de toda a Europa.

 

 

Jogos didáticos que contribuem para a educação financeira infantil

 

  • Monopólio. Um clássico da Hasbro sobre o mercado imobiliário, criado em 1904, em que é possível comprar terrenos e construir casas e hotéis. Aprendem-se conceitos como propriedade privada, arrendamento, falência. As versões infantis podem ser jogadas a partir dos 5 anos.

 

  • Paga e cala. Um jogo antigo, recuperado pela Majora, e que pode ser jogado a partir dos 10 anos. Na caixa lê-se que “o mês é curto para tanta diversão”. Há desafios para ultrapassar (despesas fixas e outras inesperadas, compras para fazer), tentando chegar ao fim dos 30 dias ainda com algum salário de parte.

 

  • As minhas compras. Para ensinar as crianças, a partir dos seis anos, a irem às compras. É considerado vencedor quem sair do supermercado com artigos do talho, peixaria, fruta ou padaria e, ainda assim, gastando o menos dinheiro possível. Ou seja, premeia a pessoa que conseguir poupar mais.

 

  • O jogo da vida. O conceito é antigo – fazer as melhores escolhas na vida (desde ir para a universidade, à aquisição de seguros) – mas o tabuleiro foi atualizado para corresponder às necessidades da sociedade atual. Idade recomendada: 8 ou mais anos.

 

 

Livros de educação financeira para crianças

 

  • Maria e o segredo da poupança, da autoria de David Cruz e Silva, Isabel Abreu Lima, Duarte Gouveia, Ricardo Figueiredo e Pedro Rocha e Mello. Conta a história de uma menina de 10 anos e de como um evento inesperado na sua família despertou a necessidade de aprender a poupar para alcançar os seus objetivos. Este livro tem o apoio da Fundação Santander.

 

  • Guia para curiosos sobre o dinheiro, da editora Fábula. Heidi Fiedler escreveu um “guia informativo, fascinante e divertido sobre o mundo das finanças”, com ferramentas para desenvolver bons hábitos de gestão financeira.

 

  • Fazer Crescer o Teu Mealheiro!, de Elisabete Lourenço e editado pela Partenon. Livro em forma de diário-conselheiro destinado a crianças entre os 6 e os 10 anos.

 

  • O meu livro de finanças, de João César das Neves. Obra que integra o Plano Nacional de Leitura e que explica conceitos de finanças.

 

  • Pai: Ensinas-me a Poupar?, de Paulo Jorge Silveira Ferreira e Silvia Alambert, da Rei Livros. Utiliza diálogos entre pai e filha para introduzir conceitos como a banca, a poupança ou os seguros.

 

  • Doutor Finanças e a bata mágica, de Doutor Finanças, um livro que tem como propósito ensinar as crianças a poupar através do método “Gastar, Guardar, Ajudar”.

 

 

… e para os pais

 

  • Educação Financeira para Crianças e Adolescentes, de Ricardo Ferreira. É um manual, com conselhos, atividades e jogos.

 

  • Pai rico, Pai Pobre, de Robert T. Kiyosaki, editado em Portugal pela Vogais. Exemplifica como personalidades bem-sucedidas financeiramente ensinaram os seus filhos a gerir o dinheiro e a sua importância.

 

  • Como sair do sufoco financeiro, de Carina Meireles, publicado pela Manuscrito Editora. Explica como é possível cortar nas despesas, fazer um fundo de emergência, poupar para o futuro e investir, mesmo tendo filhos, múltiplas despesas e um salário reduzido.

 

  • Escola de finanças pessoais, de Andreia Melo e Tânia Matos, editado pela Contraponto Editores. Um manual para compreender os conceitos essenciais das finanças pessoais saudáveis.

 

  • Ponha o seu dinheiro a trabalhar por si, de Bárbara Barroso, publicado pela Planeta. Explica a importância de investir o dinheiro e as estratégias para alcançar a independência financeira.

 

  • Ganhar dinheiro, de Pedro Andersson. Será que é possível criar riqueza com um salário normal? Neste livro, o autor explica os cinco passos para esticar os rendimentos e alcançar a riqueza.

 

 

 

Os conteúdos apresentados não dispensam a consulta das entidades públicas ou privadas especialistas em cada matéria.

O que achou deste artigo?

Queremos continuar a trazer-lhe conteúdos úteis. Diga-nos o que mais gostou.

Agradecemos a sua opinião!

A sua opinião importa. Ajude-nos a melhorar este artigo do Salto.

Salto Santander

Agradecemos o seu contributo!

Salto Santander icone porquinho mealheiro

Prepare o futuro das crianças

Damos 25€ ao abrir um depósito de 50€ para os mais novos. Até 30/06

Prepare o futuro das crianças Prepare o futuro das crianças

Informação de tratamento de dados

O Banco Santander Totta, S.A. é o responsável pelo tratamento dos dados pessoais recolhidos.

O Banco pode ser contactado na Rua da Mesquita, 6, Centro Totta, 1070-238 Lisboa.

O Encarregado de Proteção de Dados do Banco poderá ser contactado na referida morada e através do seguinte endereço de correio eletrónico: privacidade@santander.pt.

Os dados pessoais recolhidos neste fluxo destinam-se a ser tratados para a finalidade envio de comunicações comerciais e/ou informativas pelo Santander.

O fundamento jurídico deste tratamento assenta no consentimento.

Os dados pessoais serão conservados durante 5 anos, ou por prazo mais alargado, se tal for exigido por lei ou regulamento ou se a conservação for necessária para acautelar o exercício de direitos, designadamente em sede de eventuais processos judiciais, sendo posteriormente eliminados.

Assiste, ao titular dos dados pessoais, os direitos previstos no Regulamento Geral de Proteção de Dados, nomeadamente o direito de solicitar ao Banco o acesso aos dados pessoais transmitidos e que lhe digam respeito, à sua retificação e, nos casos em que a lei o permita, o direito de se opor ao tratamento, à limitação do tratamento e ao seu apagamento, direitos estes que podem ser exercidos junto do responsável pelo tratamento para os contactos indicados em cima. O titular dos dados goza ainda do direito de retirar o consentimento prestado, sem que tal comprometa a licitude dos tratamentos efetuados até então.

Ao titular dos dados assiste ainda o direito de apresentar reclamações relacionadas com o incumprimento destas obrigações à Comissão Nacional da Proteção de Dados, por correio postal, para a morada Av. D. Carlos I, 134 - 1.º, 1200-651 Lisboa, ou, por correio eletrónico, para geral@cnpd.pt (mais informações em https://www.cnpd.pt/).

Para mais informação pode consultar a nossa política de privacidade (https://www.santander.pt/politica-privacidade).