Finanças

Como a subida dos preços da energia está a apertar o orçamento das famílias e das empresas

6 minutos de leitura
Publicado a 30 Dezembro 2025

“Energia” deixou de ser só uma linha na fatura e passou a ser um tema de conversa em família, na empresa e até no café. Em 2025, entre contas da luz, gás e combustíveis, sente-se bem o peso desta rubrica no orçamento. E, olhando para 2026, tudo indica que a pressão não desaparece, mesmo com algumas medidas de contenção.

 

 

O que está a acontecer aos preços da energia?

Depois do choque energético de 2022, provocado sobretudo pela guerra na Ucrânia, os preços grossistas da eletricidade e do gás recuaram, mas estabilizaram num patamar mais alto do que aquele a que muitos consumidores estavam habituados.

 

Em Portugal, o regulador da energia (ERSE) propôs uma subida média de 1% nas tarifas reguladas de eletricidade para 2026, um aumento que deverá traduzir-se em mais 20 a 37 cêntimos por mês numa fatura típica de uma família, valor inferior à inflação prevista.

 

Ao mesmo tempo, as tarifas de acesso às redes (pagas por todos, mesmo no mercado livre) deverão subir cerca de 3%, em parte para financiar mais investimento em infraestruturas.

 

Do lado positivo, os dados europeus mostram que, no primeiro semestre de 2025, os preços médios de eletricidade em Portugal ficaram abaixo da média da União Europeia, da área do euro e até dos preços praticados em Espanha, tanto para consumidores domésticos como não domésticos. Mas isso pouco consola quando a fatura pesa todos os meses.

 

 

Como é que isto afeta o orçamento das famílias?

Para muitas famílias, a energia passou a ser quase um “segundo condomínio”: está sempre lá, não dá para ignorar e sobe devagarinho.

 

Hoje, o impacto sente-se em três frentes principais:

 

Fatura mais cara, mesmo com medidas de alívio

Há algumas medidas que ajudam a amortecer o aumento:

 

  • IVA reduzido na eletricidade: desde 2025, a taxa de 6% aplica-se ao consumo até 200 kWh por mês (300 kWh para famílias numerosas) para potências até 6,9 kVA, além de abranger parte da componente fixa e a contribuição audiovisual
  • Tarifa social de eletricidade: em 2025, o desconto é de 33,8% sobre as tarifas transitórias e aplica-se tanto no mercado regulado como no liberalizado. Em junho de 2025, cerca de 768 mil famílias já beneficiavam deste apoio, o que corresponde a cerca de 12% dos consumidores residenciais.

 

Mesmo assim, com tarifas de acesso às redes em alta e um custo de energia que continua sensível ao mercado internacional, a fatura não deixa de subir.

 

Consumidores mais atentos… mas ainda pouco “estratégicos”

A volatilidade dos preços empurrou muitos consumidores para o mercado livre e para as plataformas de comparação. Dados mostram que a grande maioria continua a escolher tarifas simples (mais de 90% dos novos contratos), enquanto as tarifas bi-horárias ou tri-horárias continuam a ter pouca expressão.

 

Ou seja: há mais gente a mudar de fornecedor, mas ainda pouca a adaptar o consumo a horários mais baratos, o que poderia gerar poupanças interessantes em algumas casas, sobretudo onde há máquinas, termoacumuladores ou carros elétricos.

 

Pressão no resto do orçamento

Quando a energia sobe, alguém “perde lugar” no orçamento familiar. Muitas vezes:

 

  • Adiam-se pequenas obras em casa
  • Corta-se em lazer, refeições fora ou férias
  • Estica-se ao limite equipamentos velhos e pouco eficientes, que, ironicamente, consomem mais.

 

Daí a importância de olhar para a energia não só como despesa, mas como área de gestão ativa: comparar tarifas, ajustar a potência, rever hábitos e aproveitar apoios à eficiência energética pode libertar dinheiro para outras prioridades.

Empresas: quando a energia mexe com margens e competitividade

Do lado das empresas, sobretudo da indústria e dos serviços mais intensivos em eletricidade, a energia pesa diretamente na competitividade.

 

O mais recente “Inquérito aos Custos de Contexto” do INE mostra que o indicador global de custos de contexto subiu para 3,14 (numa escala de 1 a 5), com a Indústria a apresentar o valor mais elevado, 3,27. A energia é um dos fatores mais citados neste “peso” adicional.

 

Na prática, isto traduz-se em vários desafios:

 

  • Custos operacionais mais altos: em algumas unidades industriais, a energia pode representar 20% a 35% dos custos de produção
  • Margens comprimidas: nem sempre é possível repercutir a subida da fatura energética nos preços finais, sobretudo em setores expostos à concorrência internacional
  • Menos espaço para investir: com mais dinheiro “preso” em custos correntes, sobra menos para inovação, modernização de equipamentos ou internacionalização.

 

É por isso que muitas empresas estão a olhar para a energia quase como olham para matérias-primas ou mão-de-obra: algo que tem de ser planeado, medido e otimizado.

 

 

Que apoios existem hoje para aliviar esta pressão?

Não há “bala de prata”, mas há programas públicos que podem ajudar famílias e empresas a reduzir consumos e tornar a fatura mais previsível.

 

Para famílias

Destacam-se sobretudo:

 

  • Programa E-Lar (PRR): apoia a substituição de equipamentos a gás (fogões, fornos, esquentadores) por soluções elétricas mais eficientes, ajudando a melhorar o conforto térmico e a reduzir consumos. A segunda fase arrancou no final de 2025

 

Combinados com o IVA reduzido e a tarifa social para quem reúne condições, estes programas permitem, a médio prazo, trocar “consumo caro” por soluções mais eficientes.

 

Para empresas

Do lado das empresas, a palavra-chave é descarbonização:

 

  • PRR – Descarbonização da Indústria: financia projetos de eficiência energética, eletrificação de processos, integração de energias renováveis e armazenamento, em empresas industriais de várias dimensões
  • Compete 2030 – Descarbonização das Empresas: abriu em 2025 um regime de pedidos de auxílio para projetos de descarbonização, incluindo apoios a investimento em tecnologia mais eficiente
  • Incentivos à “Indústria Ecológica” no âmbito do PRR: reforçam a transição para modelos de produção mais limpos, ajudando a reduzir a dependência de energia fóssil e, a prazo, o risco de faturas imprevisíveis.

 

Não são apoios instantâneos nem simples de aceder, mas, para muitas empresas, podem ser a diferença entre “aguentar” a fatura ou transformar a forma como consomem energia.

 

 

O que podem fazer, na prática, famílias e empresas?

Mais do que sofrer a fatura, vale a pena assumir uma postura ativa. Em resumo:

 

Nas famílias:

 

  • Rever regularmente o contrato de energia: usar simuladores e comparadores, comparar tarifas simples vs bi-horárias, ver se a potência contratada faz sentido
  • Explorar apoios disponíveis: confirmar se há direito à tarifa social, acompanhar avisos do Programa E-Lar e outros apoios à eficiência energética
  • Atacar desperdícios: standby, equipamentos antigos e pouco eficientes, uso desajustado de aquecimento/arrefecimento… tudo isto soma euros ao fim do mês.

 

Nas empresas:

 

  • Tratar a energia como linha estratégica de gestão: monitorizar consumos, por setor e horário, e não apenas “pagar a conta”
  • Renegociar contratos e perfis de consumo: ajustar potências, explorar discriminação horária, ponderar autoconsumo fotovoltaico ou contratos com energia renovável
  • Usar incentivos públicos como alavanca: aproveitar linhas de descarbonização para modernizar processos, em vez de apenas “apagar fogos” na fatura.

 

 

E agora, o que esperar de 2026?

Se não houver novo choque geopolítico, os especialistas apontam para um cenário de preços mais estáveis, apoiado em custos grossistas um pouco mais baixos e em medidas de contenção tarifária financiadas, por exemplo, por receitas de licenças de emissões e impostos sobre combustíveis.

 

No entanto, a subida das tarifas de acesso às redes e o esforço de investimento em infraestruturas vão continuar a ser refletidos na fatura. Ou seja, é pouco provável que as famílias e empresas voltem, no curto prazo, aos níveis de preços que tinham antes da crise energética.

 

Em vez de esperar “boas notícias” na próxima conta da luz, a melhor estratégia passa por ganhar algum controlo: perceber como e quando se consome, aproveitar os apoios existentes e olhar para a energia como algo que pode ser gerido, e não apenas suportado.

 

No fundo, a energia tornou-se um teste à capacidade de planeamento, tanto das famílias como das empresas. E quem começar já a adaptar-se estará sempre em melhor posição quando chegar a próxima atualização de tarifas.

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