É possível as empresas reduzirem 30% das emissões poluentes sem qualquer custo
A conclusão é de um estudo recente da consultora Boston Consulting Group, em colaboração com o World Economic Forum, onde são explícitas as vantagens que a aposta na sustentabilidade traz às empresas, nomeadamente vantagens económicas.
O relatório Winning the Race to Net Zero: The CEO Guide to Climate Advantage, da autoria da Boston Consulting Group, revela como a otimização das empresas no âmbito da sustentabilidade é uma mais-valia em vários aspetos, não só para o ambiente. De acordo com o relatório, é possível que a maior parte das empresas reduzam, no mínimo, um terço das emissões poluentes sem incorrer em custos adicionais para o seu negócio. Outras empresas conseguem descarbonizar mais de metade, uma média de 50% de redução de emissões, sem custos líquidos.
No estudo estão disponíveis dados, incluindo o contributo de CEOs de empresas de vários setores e países, que ajudaram a concluir como o decréscimo de emissões ajuda no crescimento da competitividade e na retenção de recursos humanos. Segundo o estudo da BCG, as empresas que encontram soluções sustentáveis, disruptivas dos modelos de negócio convencionais, obrigam os seus concorrentes a acompanhá-las e, por consequência, a adotar medidas verdes. Existem também vantagens económicas, como financiamento mais acessível devido à redução da obrigação fiscal de carbono e o retorno superior aos acionistas em comparação com outras empresas.
Os dados recolhidos demonstram que as empresas sustentáveis crescem mais 25% em relação às que optam por disponibilizar produtos tradicionais. O relatório demonstra que a preocupação ambiental tem crescido exponencialmente: atualmente, 92 países comprometeram-se a atingir a neutralidade carbónica; em 2019 apenas 29 assumiram este compromisso. Igualmente no mundo corporativo, são mais de 2 000 empresas pelo mundo que estabelecem objetivos validados pela iniciativa Science Based Targets (SBTi). Em 2015, estavam 116 empresas registadas, revelando um crescimento de 65% por ano.
Políticas sobre ESG da União Europeia
Os dados divulgados pela PWC, através da primeira edição da UE Newsletter Sustainability Reporting, mostram que o compromisso das empresas com a sustentabilidade é cada vez mais forte. De acordo com os resultados apurados, as empresas que não adotam uma abordagem sustentável devem repensar a sua estratégia.
A PWC conclui:
- Um em cada dois investidores está disposto a vender as ações de uma empresa, no caso de esta não agir em prol da sustentabilidade
- 79% dos investidores identificam os riscos de ESG enquanto um fator importante na tomada de decisões financeiras
- 75% dos investidores concordam que as empresas devem focar-se em questões de ESG, mesmo que isso resulte numa redução de lucro a curto prazo
- 68% dos investidores acreditam que as medidas e os objetivos de desempenho relacionados com ESG devem ser incluídos na remuneração dos executivos.
Os stakeholders financeiros precisam de informação útil para poderem direcionar os fluxos de capital no sentido de investimentos sustentáveis. Neste sentido, a PWC partilha a EU Newsletter Sustainability Reporting, com informações sobre 7 temas que as empresas devem dominar para conseguirem enfrentar os desafios de sustentabilidade.
A Taxonomia da União Europeia destina-se a mapear a economia europeia, de forma a identificar a percentagem de atividade empresarial que está alinhada com objetivos de sustentabilidade.
A Taxonomia vai concentrar-se no problema das alterações climáticas (mitigação e adaptação) e, ao longo dos próximos anos, vai estipular mais metas relacionadas com outras temáticas, nomeadamente com o universo social.
Esperam-se alguns desafios à medida que o Regulamento de Taxonomia for aplicado, tais como:
- O cumprimento de um calendário apertado
- A correção de erros textuais e resolução de problemas de interpretação e de aplicação
- A falta de informação e a inadequação dos sistemas informáticos dos grupos
- A necessidade de cobrir mais atividades no regulamento.
A 21 de abril de 2021, a Comissão Europeia publicou uma proposta de diretiva sobre relatórios de sustentabilidade. Conhecida como a Diretiva sobre Relatórios Corporativos de Sustentabilidade (CSRD), será a substituta da Diretiva sobre Relatórios Não Financeiros (NFRD) a partir de janeiro de 2024.
O principal desafio das empresas será planear com antecedência, para estarem preparadas para estes novos e mais exigentes requisitos.
A CSRD surgiu com o objetivo de criar uma norma relacionada com a divulgação de informação sobre sustentabilidade por parte das empresas, de forma a que esta seja fiável e permita comparações entre empresas financeiras, investidores e o público em geral. Pretende-se criar um conjunto de regras que, com o passar do tempo, resultem em relatórios de sustentabilidade com o mesmo nível de qualidade que os relatórios financeiros.
1. EFRAG
A corrida para padronizar os relatórios de sustentabilidade já começou. O European Financial Reporting Advisory Group (EFRAG) tem um papel central neste processo.
Na Europa, espera-se que as normas do EFRAG entrem em vigor em janeiro de 2024, no relatório de sustentabilidade referente a 2023, com a CSRD.
O principal desafio para as empresas será o acompanhamento e a monitorização das diversas publicações sobre normas futuras, para que possam estar devidamente preparadas e ir ajustando, gradualmente, os seus relatórios de sustentabilidade, antes que a aplicação destas normas seja obrigatória.
2. ISSB
Enquanto a Europa está envolvida na criação de uma norma para os relatórios de sustentabilidade, a iniciativa internacional também vai avançando. Neste sentido, o ISSB está focado nos relatórios sobre o clima, com base nas recomendações do Technical Readiness Working Group (TRWG), um grupo formado por membros da Fundação IFRS.
Na COP26, em Glasgow, o Presidente da Fundação IFRS, Erkki Liikanen, anunciou:
- A criação do ISSB, um organismo internacional com a missão de desenvolver normas para os relatórios de sustentabilidade de alta qualidade, para atender às necessidades de informação dos investidores
- O compromisso das principais organizações de relatórios de sustentabilidade, o Climate Disclosure Standards Board (CDSB) e a Value Reporting Foundation (VRF), de se organizarem no ISSB, até junho de 2022
- A publicação de um "protótipo de requisitos gerais" e um "protótipo de divulgação de informação relacionada com o clima", desenvolvidos pelo TRWG. Estes protótipos são o resultado de 6 meses de trabalho conjunto entre representantes do CDSB, do International Accounting Standards Board (IASB), da Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD), da Value Reporting Foundation (VRF) e do Fórum Económico Mundial, com o apoio da International Organization of Securities Commissions (IOSCO)
- A localização do ISSB: Frankfurt (sede e escritório do presidente), Montreal, São Francisco e Londres. Futuramente, será proposto o estabelecimento de escritórios em Pequim e Tóquio, para finalizar a organização do novo conselho na região Ásia-Oceânia.
1. Impacto da COVID-19
Publicar informação transparente sobre os efeitos da pandemia, incluindo o desenvolvimento das atividades das empresas, os seus planos de ação e o cumprimento dos seus objetivos de sustentabilidade perante este contexto. Por exemplo: a restruturação da rede de fornecimento e canais de distribuição.
2. Assuntos relacionados com o clima
Assegurar a transparência dos assuntos relacionados com o clima (políticas, identificação e gestão de risco, indicadores e objetivos). Transparência e coerência das empresas face aos seus compromissos climáticos e aos efeitos gerados através de demonstrações financeiras. Por exemplo: fornecer dados sobre as emissões de gases com efeito de estufa por região ou por setor de atividade.
3. Divulgação de informação relacionada com o Artigo 8.º do Regulamento de Taxonomia
Consciencialização da informação que necessita de ser divulgada de acordo com o Artigo 8º do Regulamento de Taxonomia. Por exemplo: planear antecipadamente para a implementação de sistemas de relatórios internos para que estejam em conformidade com os requisitos.
O SFDR estabelece regras para os agentes do mercado financeiro, relativas à divulgação de informação sobre a sustentabilidade dos produtos financeiros que comercializam. Estes agentes devem ter acesso a dados sobre empresas não financeiras para conseguirem ir ao encontro dos seus requisitos, o que acaba por impactar ambos os tipos de empresas.
As alterações climáticas são uma questão essencial para as empresas e a ligação que têm com as demonstrações financeiras está a receber cada vez mais atenção. Esta é uma tendência que vai continuar no futuro, durante os momentos de reportar resultados.
É essencial manter a transparência e a coerência entre as premissas feitas nas demonstrações financeiras e as que são apresentadas no relatório de sustentabilidade.
Todas as empresas são afetadas pelas alterações climáticas, mas os impactos financeiros variam de acordo com fatores como:
- Setor de negócio
- Localização geográfica
- Tipo e grau de riscos
- Oportunidades.
Quais as prioridades dos reguladores na construção das demonstrações financeiras?
Trabalhar e alinhar a informação financeira e a não financeira
- Identificar os impactos das alterações climáticas
- Envolver todos os departamentos
- Garantir a coerência entre informação financeira e não financeira.
Princípios gerais da divulgação de informação
- Divulgar apreciações / maiores fontes de incerteza
- Adaptar o trabalho e a informação consoante o âmbito do tema
- Consolidar toda a informação (notas ad hoc / rodapés).
Pontos específicos para analisar
- Rever a vida útil de ativos, indicadores de imparidade,...
- Testes de imparidade: coerência com estratégia/compromissos climáticos, análises de sensibilidade,...