
Ana Botín elenca 5 razões para estar otimista depois de Glasgow
Bem consciente dos problemas e das dificuldades, Ana Botín lembrou que a mudança está em marcha e que o nível de ambição para 2030 e 2050 deve animar-nos a todos a prosseguir esse trabalho com todo o entusiasmo que for possível. No Santander temos bem claro que iniciativas devemos tomar para um futuro mais verde e, no nosso país, mesmo antes da COP26, o Santander em Portugal assinou, juntamente com mais de 90 empresas portuguesas, o Manifesto "Rumo à COP26" do BCSD Portugal, que detalha 11 aspetos fundamentais para alcançar o objetivo de limitar o aquecimento da Terra a 1,5⁰C.
5 razões para estar otimista depois de Glasgow
Desanimar é fácil. Quando se lê relatórios de organizações como IPCC, IEA e os media, rapidamente nos apercebemos que estamos a perder a luta contra as alterações climáticas. Temos sido lentos a agir desde a Verdade Inconveniente de Al Gore e o relatório Stern que desencadearam a nossa consciência coletiva sobre o problema climático no ano 2006.
No entanto, também há razões genuínas para se estar otimista:
Hoje receamos não alcançar o objetivo de limitar o aquecimento global a uma subida de 1,5⁰C acima da média pré-industrial. Mas lembrem-se, o limite de 1,5⁰C não estava no nosso radar até 2015. Mesmo nessa altura, em Paris, foi acordado que o nosso objetivo deveria ser ficar abaixo dos 2⁰C. Além disso, os decisores políticos inseriram o desejo de permanecer abaixo de 1,5⁰C, o que é uma espécie de esticar do objetivo. E que diferença isso fez. Mais de 90 teorias foram publicadas desde então, mostrando caminhos diferentes para alcançar esse objetivo de 1,5⁰C, despertando a imaginação, impulsionando planos governamentais e do setor privado e impulsionando o investimento. Com o objetivo de 1,5⁰C, as coisas começaram a avançar em várias frentes.
De facto, Paris foi importante por outra razão que só agora estamos a começar a compreender com Glasgow. A COP funciona por meio de tratados governamentais. E em Paris, os governos concordaram que cada país assumiria um "compromisso nacional" quanto ao que faria para contribuir para o cumprimento do objetivo dos 2⁰C. Sem sanções reais em vigor, os países poderiam fazer promessas confusas com poucos detalhes. Mas todos os países que assinassem tinham de fazer uma promessa. Na COP, estas são chamadas contribuições determinadas a nível nacional. Talvez tenham lido muito sobre o facto de alguns países não se terem comprometido a chegar ao Net Zero até 2050. Poderá ter lido que as promessas que recebemos são insuficientes (colocam-nos em rota de 2,1⁰C a 2,4⁰C) e que a nossa trajetória atual se situa algures entre 2,7⁰C a 3⁰C. Como se já não bastasse, poderá também ter lido que faltava ação política sobre as promessas existentes.
Mas aqui está outra forma de olhar para a questão. Em primeiro lugar, 179 países enviaram delegações à COP. São quase todos os países do mundo.
O que causou isto? A pressão dos pares. Em termos do acordo de Paris, os governos devem assumir os seus compromissos em público, e estes são revistos periodicamente. Acrescentem a pressão política interna e a opinião pública global, e este procedimento de compromisso teve um efeito surpreendentemente positivo nas promessas e ações.
As energias renováveis representarão a maior parcela do investimento na produção de energia a nível mundial. Uma das principais razões para isto é o facto do mercado de capitais estar já preparado para o limite de 1,5⁰C. Tem-se falado muito no preço do carbono, mas os mercados de capitais já fixam o preço do carbono. Como é que sabemos isto? Há alguns anos, custava o mesmo pedir dinheiro para financiar um projeto petrolífero ou uma exploração agrícola solar - até 10%. Atualmente, as estimativas do custo de capital para investimento num projeto petrolífero podem chegar aos 20%, enquanto que para as renováveis, situa-se entre 3 e 5%.
Uma das coisas de que Ana Botín se orgulha particularmente é de fazer parte da Glasgow Financial Alliance for Net Zero, ou GFANZ, para abreviar. Enquanto grupo de instituições financeiras com ativos existentes superiores a 130 mil milhões de dólares, estamos empenhados nos objetivos de Paris. E como grupo, seremos capazes de gerar 100 mil milhões de dólares, até 2050, para financiar investimentos em novas tecnologias e ter um alcance global suficiente para criar caminhos para os nossos clientes, grandes empresas e pequenas PMEs, no sentido de reduzir a sua pegada de carbono.
Nem todos sentem o mesmo. Seria negligente não mencionar que, na COP, ocorreram ações de protesto dirigidas aos bancos. O Santander foi especificamente visado em alguns deles. Ana Botín confessa que entende a desconfiança de que muitos na sociedade ainda têm em relação aos bancos. Mas pede que nos julguem pelas nossas ações em direção a 2030, e pelas nossas ações nos últimos anos. Até 2030, o Santander terá deixado de prestar serviços financeiros aos clientes produtores de energia com mais de 10% das receitas dependentes do carvão. Até 2030, o banco eliminará em todo o mundo, a exposição à extração de carvão.
Assim, o GFANZ representa uma mudança radical de pensamento na maioria das instituições financeiras mundiais. Como o The Wall Street Journal destacou, quando os líderes mundiais se reuniram em Paris há seis anos, as instituições financeiras e os bancos nem sequer faziam parte da conversa. Foram necessários vários anos para que um único gestor de ativos ou banco se comprometesse com o acordo de Paris, e só nos últimos dois anos é que este se generalizou. Em 2020, a soma total do capital financeiro comprometido em atingir o Net Zero foi de 5 mil milhões de dólares, em comparação com os 130 mil milhões de dólares prometidos em Glasgow.
Depois há o quadro maior, de longo prazo. Larry Fink, CEO da Blackrock, o maior gestor de ativos do mundo, disse em Glasgow que o que está a ser tentado não tem precedentes. Globalmente, o investimento de que precisamos está nos mil milhões, o que é muito. No seu pico em meados da década de 2030, isto seria cerca de 2,5% do PIB global. Mas Adam Tooze, um historiador económico, salienta que o montante não está na escala do que temos gasto regularmente em guerras. Na realidade, é aproximadamente a mesma quantidade de dinheiro que corresponde à percentagem do PIB gasto em infraestruturas nos países BRICS na viragem do milénio. E é por si só uma grande despesa que irá impulsionar o crescimento. Quando houver infraestruturas limpas suficientes, e a procura de energia limpa corresponder à oferta de energia limpa, os preços deverão baixar, aumentando a produtividade global, tornando-nos a todos mais ricos. Isso seria uma grande notícia, sobretudo para as gerações mais jovens. O desafio que enfrentamos é chegar a este ponto: financiar a transição, e assegurar que a transição seja "justa" e acessível para todos é fundamental. Em Glasgow, temos tido um vislumbre do que poderia ser possível. Precisamos agora de transformar a nossa ambição em realidade, continuando a tomar medidas.
Conheça as nossas iniciativas para um futuro mais verde.
Santander em Portugal assina “Manifesto Rumo à COP26”
O Santander em Portugal assinou, juntamente com mais de 90 empresas portuguesas, o Manifesto "Rumo à COP26" do BCSD Portugal, que detalha 11 aspetos fundamentais para alcançar o objetivo de limitar o aquecimento da Terra a 1,5⁰C.
Setor energético
Assegurar a neutralidade carbónica global até 2050, usando como referência global a ambição expressa no Roteiro para a Neutralidade Carbónica (RNC2050), designadamente, a ambição de mais de 80% do mix energético ter origem em fontes renováveis até 2050.
Natureza
Alinhar agendas e reconhecer que os objetivos de mitigação e adaptação às alterações climáticas não podem ser concretizados sem a promoção eficaz de soluções baseadas na natureza (nomeadamente, valorizando os sumidouros naturais de carbono, como a floresta e os oceanos), e o restauro, a conservação e a valorização dos recursos naturais.
Serviços de ecossistema
Adotar mecanismos de remuneração que permitam a valoração dos serviços que a natureza nos presta, geralmente não remunerados, para garantir que os seus benefícios, essenciais à economia, à regulação do clima e da diversidade biológica, e à nossa saúde, são assegurados no futuro.
Contribuições Nacionalmente Determinadas
Aumentar o número de países ativamente comprometidos em reduzir em 50% as emissões até 2030 e em atingir emissões Net Zero até 2050, tornando os seus compromissos juridicamente vinculativos. Paralelamente, garantir a finalização do Livro de Regras do Acordo de Paris e, no caso dos países da UE, garantir que as políticas nacionais acompanham as metas definidas.
Subsídios e mecanismos de mercado
Atribuir um preço de carbono, de modo a internalizar os seus impactos ambientais, e eliminar gradual e efetivamente subsídios injustificados ou incompatíveis com o objetivo de redução de emissões de Gases com Efeito de Estufa, através de instrumentos transparentes e robustos, de alcance global e equilibrados entre espaços económicos, de forma a evitar distorções concorrenciais que levem à exportação de emissões para geografias menos exigentes, ou à circulação de produtos que não cumpram os requisitos aplicáveis, assegurando a erradicação da pobreza energética, salvaguardando a segurança do abastecimento e contribuindo para transformar o comportamento dos consumidores.
Mercados de carbono internacionais
Definir regras claras e robustas para o funcionamento do Artigo 6.º do Acordo de Paris sobre mercados de carbono, que evitem a dupla contabilização de créditos de carbono, garantam uma redução global das emissões e contribuam para a construção de uma economia neutra em carbono.
Financiamento de países em desenvolvimento
Cumprir o compromisso, definido no Acordo de Paris, de apoio aos países em desenvolvimento, no valor de 100 mil milhões de dólares por ano, enquanto fator crítico na proteção contra os impactos climáticos e na aceleração da descarbonização a nível global, com regras e monitorização.
Finanças sustentáveis
Criar incentivos de mercado que direcionem o financiamento e o investimento para soluções de baixo carbono, nomeadamente, soluções de finanças sustentáveis, procurando assegurar normas universais de medição e reporte do risco e dos impactos climáticos.
Investigação, desenvolvimento e inovação (I&D&I)
Apoiar o desenvolvimento de novas tecnologias e a alteração de métodos produtivos, através da colaboração entre empresas e academia, e da dinamização de parcerias público-privadas em prol da neutralidade carbónica.
Transição justa
Criar mecanismos para qualificação e requalificação das pessoas mais afetadas pela transição, baseados no diálogo entre trabalhadores, empregadores, governos, comunidades e sociedade civil, para que ninguém fique para trás e se garanta que os custos e benefícios da ação climática são distribuídos de forma equitativa.
Planos de adaptação
Incentivar os países a desenvolverem estratégias de resiliência que acautelem os riscos climáticos físicos nos locais chave das cadeias de valor globais e para as comunidades e populações locais.
Estamos num momento decisivo. É crucial aproveitar as lições da pandemia para acelerar a transição necessária e evidente a urgência da COP26 ser um sucesso, de forma a evitar consequências desastrosas para as sociedades e economias.